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sexta-feira, 5 de junho de 2015

Carta aberta ao meu personagem preferido: Dom Casmurro

[FlickR @ Michel Melamed]

Olá, meu velho amigo...

Já deves saber o porquê de te escrever. Li teu livro. Embora tua história seja - como diria o agregado - banalíssima, como uma novelinha, vê que não estou a desmerecê-la: é encantadora. Imaginei-me vivendo todo aquele amor juvenil, todo aquele turbilhão de emoções.

Eu sei como é. Também vivi amores assim, um juvenil e outro mais maduro, e é ter o coração explodindo no peito, por felicidade ou dor.

E sei que a amaste até o fim dos teus miseráveis dias, porque senão não havia motivo para teres escrito tal livro.

Fizeste bem em tê-la vivido intensamente. Não fizeste bem em ter vivido intensamente o ciúme. Entristeceu-me perceber que acabaste com toda aquela beleza e tornaste casmurra tua vida.

Penso que foste burro. Poderia chamar-te de idiota umas mil vezes, vezes mil.

Acredito que Capitu tenha te amado até morrer, bem como teu filho Ezequiel. SIM, TEU FILHO - tenho a plena certeza de que era teu. E daí se ele não se parecia contigo? Naturalmente, herdou a beleza da mãe.

Não que eu não te achasse bonito; para dizer a verdade, me encontrei apaixonada por ti, mas também por Capitu, ela era magnífica.

Não vejo como Capitu não seria apaixonada por ti. A menos que o ciúme tenha corroído seu sentimento. Entenderia-a, pois abomino o ciúme em excesso, porém rejeito essa ideia. O ciúme não foi capaz de matar seu amor, mas foi capaz de envenenar o teu.

Pura tolice! Orgulho estúpido! Tinhas o amor e a felicidade e, por escolha tua, rejeitaste. Sei que já deves ter sido picado pelo bichinho do arrependimento, contudo, não foi o suficiente para quebrar tua maldição de levar até o fim essa casmurrice.

Fico tristíssima por ti, por ter levado esta vida. Mas também por mim, por meu amado, estávamos a seguir esses passos, assumindo oras o papel de Dom Casmurro, oras de Capitu; todavia, o que envenena é o egoísmo e o orgulho. Eu o amo. E é por isso que sei que Capitu te amou. Com pesar, já tenho o desfecho da peça. E, no fim de nossas vidas, já encasmurrados, talvez eu (ou ele) escreva sobre nossa grande e banal história de amor.




Esse post faz parte da blogagem coletiva do Círculo Secreto das Bruxas Blogueiras, um coven secretíssimo que reúne só as mais poderosas bruxas da antiga blogosfera. Fique de olho nos blogs participantes. Corvos estão voando e cartas estão sendo entregues.