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terça-feira, 19 de maio de 2015

30 Letters: A deceased person you wish you could talk to


[Instagram @ Luxferia]

Você lembra disso? Mesmo depois de tantos anos, ainda tenho o baralho de Magic que você me deu. Sempre que penso em Magic, penso em você. Você me ensinou a jogar. Não lembro mais como se joga, mas guardei-o com carinho, pois é uma lembrança concreta sua. Você foi meu primeiro namorado e marcou uma fase boa da minha vida.

Gostaria de ter alguma foto nossa daquela época. Foram quase 2 anos, até que começarmos a namorar.

Será que você, de vez em quando, sem querer, pensava em mim, assim como eu pensava em você? Sempre guardei um carinho por você em todos esses anos e sempre guardarei.

Até cheguei a desenhar um personagem inspirado em você. Comecei a gostar de Tenchi Muyo por sua causa. Era apaixonada pelo Tenchi e pelo Youta porque tinha te projetado neles.

Lembro até hoje do seu telefone, era um número ridiculamente fácil. Por muitas vezes, tive vontade de te ligar, só para dar um oi, saber como estava sendo sua vida. E vontade de te ligar nos seus aniversários. Nunca esqueci seu dia.

Se lembra quando nos conhecemos? Neste mês, fez 14 anos, ainda sei a data. Tinha escrito num diário. Foi no passeio do colégio para Petrópolis. Amo esse lugar principalmente por causa desse dia. Foi quando me apaixonei por você.

Lembrei que, num outro diário, era para você ter me escrito uma dedicatória, e você fez um pedido de namoro.

Lembra da vez que te dei um perfume, "One of Us", d'O Boticário de aniversário, com um cartão? Era ótimo, principalmente quando o cheiro dele passava de você para mim, sem querer. Fiquei um bom tempo guardando dinheiro, ainda nem namorávamos.

Sempre que eu saía mais cedo do colégio, ia correndo para sua casa para aproveitar esse tantinho de tempo. Em uma dessas vezes, brincamos de cosquinha (ou algo do tipo) e acabamos debaixo da mesa. Você havia me prendido e ficamos um tempo calados, olhando um para o outro, e você acariciou meu rosto. Achei que me beijaria naquele dia.

E da vez em que você estava deitado no meu colo, assistíamos a Dragon Ball e de repente a programação foi interrompida por causa do atentado às torres gêmeas. Naquele momento, só me interessava estar contigo.

Se lembra quando nos beijamos pela primeira vez? Era de tarde, estávamos no jardim do bloco 2. Você tropeçou (ou fingiu) e te segurei. Você me olhou bem nos olhos, como pudesse me partir em duas, de tão indefesa... Nossos rostos tão próximos...

A última vez que te vi foi na noite de um domingo frio e chuvoso de dezembro. Tínhamos 18 anos. Recém-solteira, sem amigos, eu precisava me distrair e estava com saudades, então tomei coragem e te liguei. Você atendeu. E topou encontrar comigo para bater papo mesmo se recuperando da pneumonia. Naquele dia, tive vontade de te beijar. Contudo, era ilógico, já que eu sabia que nunca voltaríamos. O tempo havia passado e já éramos outros.

E passou rápido demais. E abriu um abismo entre nós. Não queria que o tempo tivesse nos distanciado. Queria ter mantido uma amizade. Dói-me saber que isso nunca mais será possível. Saber que nem na mais remota possibilidade não nos esbarraremos por aí.

Sei exatamente onde te encontrar nesse momento, porém assim é de partir o coração. Preferiria que você estivesse por aí na sua moto ganhando o mundo, e vendo crescer e cuidando de seu filho. Só consigo pensar nele, em como ele deve estar sentindo a sua falta.

Eu te amei.

Sei que a morte faz parte da vida, é natural e é a única certeza que temos. Contudo, a maioria de nós não está acostumada com a ideia de que tudo acabará um dia, e de como a vida é frágil e, por isso, preciosa. Assusto-me, ainda mais se tratando de alguém jovem.

Ainda não consigo acreditar (nem aceitar) que você foi embora para sempre. Ainda nem sei o que te aconteceu. Nem pude dizer adeus. Queria ter me despedido de você uma última vez, de ter te dado um último abraço.

Agora, só nas minhas lembranças. O tempo nos fez mudar por dentro e por fora. Talvez não nos reconheceríamos na rua. Mas pelo menos terei sempre seu rosto na memória, daquele Diogo tão moço, cheio de vida, que gostava de Rock, e de olhar melancólico e bonito.

Estive pensando em te visitar, te levar umas flores e ler essa carta. Pena que você nunca lerá. Porém, de alguma forma, espero que isso chegue até você, onde você estiver.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Da Saudade

Foto por Momota.M (FlickR)

A saudade, com a certeza do reencontro, é uma dor doce na alma, um susto agradável ao coração.

A saudade, com a certeza do nunca mais, é a mais cruel, dilacera e deixa em carne viva, machuca sem machucar, sangra sem sangrar. O sangue é lágrima. Deixa-te inteiro pra te lembrar que ainda está vivo. É estar em uma sala de tortura, é o carrasco afiando a lâmina, e tudo que se deseja é que ele faça logo para tudo cessar.

A saudade tem gosto, cheiro e toque. Tem um rosto e um nome. Foi apenas o que restou. E sou totalmente dela.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Um ano sem Vandinha...


"Todos rumo ao acaso, sem nunca ter escolhido. Não é questão de sorte, é jogo vencido. Não me leve agora... Eu não quero ir embora... Tenho tanto o que fazer, tenho um filho pra ter... Tenho motivos pra crer que ainda não é hora."
 
~ "Epílogos e Finais", Agridoce.

No dia 19, minha avó completou um ano de falecida. Marcamos uma missa para ela. No fim, o padre fez uma oração "especial" para todos os entes queridos que se foram. Eu não aguentei e chorei no fim da missa e na oração. Oferecemos velas.

No dia de finados, eu e o Glauco a visitamos no cemitério. Estava tão bonito, cheio de flores. Sempre quis ir ao cemitério no dia de finados. Levei um ramalhete para colocar no túmulo dela. Chorei, me senti mal por não visitá-la com mais frequência, e pela falta que ela tem feito.

Já me acostumei com a ausência dela, mas quando paro para pensar nela e em tudo que houve, sinto a falta dela pesando no peito. Enquanto estou fora, é como um dia qualquer. Quando estou em casa, ainda fico achando que a qualquer momento ela abrirá a porta, e, ao pensar, ainda sinto como se estive em um episódio de "Além da Imaginação". Ainda estranho o fato de morar agora apenas com meu avô.

Embora eu não tivesse muitas conversas produtivas com minha avó, me sinto sozinha mais do que nunca. Além dela, ainda tinha minha irmã de companhia. Quando chego em casa, depois de um dia cansativo de trânsito, trabalho e faculdade, não tem vozes para me distrair. Minha distração tem sido mais a tevê - Discovery, NatGeo, Universal. Nem tenho ficado tanto no computador, porque acho que é tarde demais para ficar na internet só perdendo tempo. Poucas são as horas que estou com meu avô. Geralmente, está trancado no quarto mexendo no computador, isso quando ele está em casa.

Embora que, com a morte da minha avó, eu tenha ganhado mais liberdade e mais "paz" (quem me conhece sabe bem o que quero dizer), não queria que ela tivesse partido. Esse primeiro ano sem ela foi bem difícil, não por causa da tristeza, mas sim a vida ficou mais difícil.

Ainda espero por dias melhores.

terça-feira, 10 de abril de 2012

"Wish You Were Here"

Igor Morais, vítima da tragédia em Realengo.
Imagem: G1.

"Como eu queria, como eu queria que você estivesse aqui. Somos apenas duas almas perdidas nadando em um aquário. Ano após ano, correndo sobre este mesmo velho chão, o que encontramos? Os mesmos velhos medos. Queria que você estivesse aqui."
~ "Wish You Were Here", Pink Floyd.

Já se passou um ano, e pergunto - quantos se lembraram? Não vou julgar quem esqueceu, afinal de contas, se não tivesse sido tão próximo de mim, talvez não tivesse lembrado.

Infelizmente, foi com uma tragédia que meu adorado-odiado bairro ficou conhecido, até mesmo internacionalmente. Antes, às vezes, lembrado na canção de Gilberto Gil - "Alô, alô, Realengo, aquele abraço!". Preferia que lembrassem só da canção.

Um ano depois, o que mudou? Precisou acontecer uma tragédia para que melhorassem a escola e até o ensino. Fizeram as mudanças para tentar enterrar o que houve. Que fizessem a mudança, mas não esquecessem. Deveria ser lembrado sempre, com carinho. "Quem semeia o mal, colhe tempestade." Nossos atos interferem no futuro. É uma lição que deveria ser aprendida.

Naquele dia, eu e meu avô estávamos indo para uma audiência. Passamos ao lado do policial que, meia hora depois, viraria herói. Estava tendo uma blitz na rua. No meio do caminho, minha avó nos ligou dizendo que estava tendo um tiroteio na Piraquara, que tinha criança ferida. Estava com medo de ter sido na escola da minha irmã. Não era. Depois do ocorrido, não se falava em mais outra coisa. Nunca vi tanta gente para falar de "Realengo" e "Piraquara", como se conhecessem.

Moro há 200 metros da escola onde tudo aconteceu. Filhos de vizinhos e conhecidos estudam lá. Conhecia o Igor de vista. Ele era um primo de consideração de um amigo. Já consigo olhar para a foto da minha avó sem meu olhos encherem d'água, mas não para a foto dele. Era bonitinho. Sempre me lembro de como ele se foi tão jovem, com tantos planos e sonhos (queria ser jogador de futebol), da maneira brutal como foi morto. De como ele e o irmão, Dudu, eram tão amigos... É estranho ver o Dudu sozinho, e sempre que o vejo não consigo não pensar no ocorrido. Na dor das famílias...

Antes da morte da minha avó, a perda do Igor foi a maior dor que eu já tinha sentido. Seu enterro foi o primeiro que fui. Se eu sofri tanto por alguém que só conhecia de vista, imagina os familiares. Agora sei que é uma dor indescritível.

Outro fator que me faz não esquecer é a probabilidade de eu ter estudado com o atirador, antes de ele ir para a Tasso, na 5ª série. Lembro que cheguei a estudar com alguns "Wellingtons". Sempre soube que seu rosto me era familiar. Só o conhecia de vista. Tenho quase certeza de que o tenho em uma da minhas fotos de passeio. Quero achá-la. E aí talvez solucione minha dúvida. Já meu amigo estudou com ele no Ensino Médio, também só o conhecia de vista. E quase estudei na mesma escola. Quase sempre passo em frente a casa onde morou.

Falam que ele era tímido, quieto. Que sofreu bullying. "Esquisito". Aí, temos algo em comum. Eu era tímida, quieta, sofri bullying (e ainda sofro às vezes), sempre me tachavam de "esquisita". Questiono: por que será que não fiquei como ele? Talvez porque eu queria encontrar pessoas que me aceitassem, em vez de me afastar completamente. Ou talvez se eu fosse homem, eu tivesse ficado mais parecido com ele. Mas eu nunca pensei em fazer mal a ninguém, mesmo a quem me fez mal. E nunca apoiei atos anarquistas ou terroristas, porque sempre quis tudo certo, dentro das normas. Isso é graças a educação rígida e traumatizante da minha avó, mas ela podia ter me transformado em um monstro.

A tragédia em Realengo me marcou tanto que virou um fantasma. Sei que é pior para aqueles que viveram e ainda vivem o terror. Não houve um único dia que não deixei de pensar, mesmo que por um minuto. E conforme foi se aproximando da data, entrei em contagem regressiva. Lembrar sempre mexe comigo, às vezes, fico com os olhos marejados. Mas até que é bom, para me fazer refletir.

"E todos terão refúgio nas leis. E ninguém mais matará crianças.
Noite após noite, rondando meu cérebro, seu sonho está enlouquecendo-me. E no canto de algum campo estrangeiro, o atirador dorme esta noite. O que está feito está feito. Não podemos simplesmente cancelar sua cena final. Presta atenção ao seu sonho. Presta atenção."
~ "The Gunner's Dream", Pink Floyd.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

"Could It Be Any Harder"


"Poderia ser mais difícil dizer adeus e viver sem você? Poderia ser mais difícil te ver partir, encarar a verdade? Se eu tivesse só mais um dia... Agarraria essa chance, nós beberíamos e dançaríamos. E escutaria cada palavra sua, como se fossem as últimas, mas sei que são. Porque hoje, oh, você se foi. [...] Como a areia em meus pés e o cheiro de um doce perfume, você ficará em mim para sempre. E eu queria que você não tivesse partido, eu queria que você não tivesse ido embora. Para te tocar novamente com vida em suas mãos. Isso não poderia ser mais difícil..." 
~ "Could It Be Any Harder", The Calling.
Desculpe pela demora para atualizar. Sinceramente, não sabia como começar. Tentei escrever várias vezes.

Minha avó morreu. E a vida aqui em casa virou um caos. Ainda estamos tentando nos organizar, estamos arrumando a casa, jogando um bocado de coisas fora. Isso é bom, faz a energia circular. Espero que o clima lá em casa melhore, porque tá péssimo. Aparece um problema atrás do outro.

Ela estava com pneumonia há algum tempo. Um pouco antes de morrer, ela foi novamente procurar atendimento, e o médico ficou assustado com o estado dela. Ela estava com derrame pleural, e ele passou um monte de exames. Os médicos começaram a desconfiar que era câncer, pois minha avó já tinha tido câncer de mama há uns 3 anos, mas não tinha sido grave (não precisou tirar o seio e nem fazer quimio).

Eu achava um absurdo eles pensarem em câncer. Mas depois que minha vizinha (melhor amiga da minha avó) conversou comigo, fiquei mais convencida. Ela já tinha experiência, perdeu o marido com câncer de pulmão. Contudo, não queria acreditar. Uns dias antes, comecei a achar que ela não conseguiria fazer todos os exames a tempo, que ela morreria antes dos resultados saírem, sem saber o que realmente tinha.

Apesar de não sabermos ao certo a causa mortis (meu avó não quis que fizessem autópsia nela e não temos nenhum exame que nos dê certeza), convencemo-nos de que ela estava com metástase. Ela estava com insuficiência respiratória por causa do líquido pleural, e isso sobrecarregou o coração, e, daí, ela faleceu.

Eu (quase) a vi morrer. Acordei com ela pedindo socorro, meu avó arrumando as coisas para levá-la ao hospital. Minha avó dizia que não conseguia respirar, que ia morrer, ela abria a boca tentando respirar, às vezes, arregava os olhos. Fiquei muito assustada com ela, e acho que nunca vou esquecer isso. Falei para ela tentar se acalmar. Foi a última coisa que eu disse para ela.

Fiquei pensado que, se meu avô a levasse de carro, ela poderia morrer no caminho e não haveria nada o que fazer por ela. Então falei para o meu avô chamar o SAMU, achei que era a melhor opção, já que eles tem toda uma aparelhagem. Mas eles demoraram tanto que ela morreu. Eu não estava presente no exato momento que ela morreu, meu avô tinha me mandado ficar esperando a ambulância no portão do condomínio, mas antes de sair de lá, ela tinha começado a dizer que ia desmaiar e se deitou. Ela ainda gemia quando saí.

Enquanto eu esperava, meu avô me ligou, ela não estava mais respirando. Quase 10 minutos depois, o SAMU chegou. E que raiva fiquei deles! Não só pela demora, mas também pelo descaso, pareciam que não estavam nem aí. Fico me sentindo culpada por ter falado para o meu avô ter os chamado.

Ela faleceu no dia 19 de novembro de 2011, às 3:15, dia da bandeira (como minha avó era patriota). Tinha 61 anos. Era vaidosa. Faltando umas 12 horas para sua morte, ela foi ao salão fazer o cabelo e as unhas.  Fez isso já pensando em se internar. As pessoas num hospital vão ficando feias. Estava feliz, parecia até que era uma despedida. Sinto-me culpada por não ter ficado em casa à noite para ajudá-la. Deus, como me culpo. Faltava só algumas horas para ela morrer.

Ela era a pessoa mais hipócrita que já conheci (e por causa dela, a hipocrisia é a coisa que mais odeio). Entretanto, ela foi como uma mãe, vivi praticamente a minha vida toda com ela cuidando de mim. Apesar desses últimos tempos a gente não estava se dando muito bem (e parecia piorar), eu gostava dela e não queria que ela morresse.

Meus avós na festa. Ela tinha ido ao
médico neste dia, e eles passaram vários
exames. Mas ela se foi antes de
sairem os resultados.
Porém ela morreria de qualquer jeito. Só não achei que seria tão repentino. O que ficamos refletindo sobre o que teria sido melhor - ela morrer como morreu, com marido, em casa, sem muito sofrimento, rapidamente, ou sozinha, no hospital, toda entubada, sofrendo com tratamento, lentamente. Meu avô mesmo disse que preferia a segunda opção, ainda sim, estaria viva. Mas sem poder chegar perto dela. Se os médicos não tivessem sido tão negligentes, talvez ela estivesse viva, numa cama de hospital. Fiquei com muita pena do meu avô quando ele disse que a pessoa que ele mais amava na vida morreu.

Eu nunca tinha perdido alguém.. A dor mais parecida que tive foi com a morte do Igor, na tragédia da escola (ao lado do meu condomínio). Eu o conhecia de vista, mas a dor foi tão grande, que só foi superada com a morte da minha avó.

Depois da conversa com a minha vizinha, fiquei pensado em fazer um post sobre como eu deveria agir diante da situação - a doença dela e as minhas desavenças com ela. Contudo, não importa mais.

Nos 3 primeiros dias sem ela, eu fiquei arrasada. Depois melhorei um pouco. Não chorei na missa de 7º dia. Mas hoje... estou sentindo tanto... Está tão triste.

(Obs.: Sempre gostei dessa música do The Calling, a letra é triste, mas bonita. Eu a tocava no violão antigamente.)